quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O catálogo sagrado dos primeiros cristãos


Como poderemos ver nos testemunhos primitivos que irei transcrever, na Igreja Primitiva somente alguns livros que hoje consideramos canônicos eram comumente aceitos por toda Igreja, outros tinham sua canonicidade contestada. 

O Cânon Bíblico, ao contrário do que alguns pensam não chegou até nós pronto, mas foi resultado um grande trabalho que o Espírito Santo realizou através da Tradição Apostólica e do Magistério da Igreja Católica.
Enquanto não era chegado o tempo em que a Igreja Católica definiria de um único Catálogo Sagrado para todos os cristãos (Concílio Ecumênico de Hipona, 8 de Outubro de 393), muitos catálogos foram propostos e observados pelos primeiros cristãos.

Orígenes nos chama a atenção para algo interessante: "Observe-se que os livros do Antigo Testamento, segundo a tradição hebraica, são vinte e dois, número das letras de seu alfabeto."

Os livros sagrados segundo Justino de Roma (155 d.C)

Justino, considerado o maior apologista da verdadeira fé no segundo século, costumava utilizar o Antigo Testamento para provar através das profecias a legitimidade e a antiguidade da fé Cristã. Utilizava freqüentemente a Tradução dos Setenta, e sobre ela escreve:

"Entre os judeus, houve profetas de Deus, através dos quais o Espírito profético anunciou antecipadamente os acontecimentos futuros, e os reis, que segundo os tempos se sucederam entre os judeus, apropriando-se de tais profecias, guardaram-nas cuidadosamente tal como foram ditas e tal como os próprios profetas as consignaram em seus livros, escritos em sua própria língua hebraica. Quando Ptolomeu, rei do Egito, se preocupou em formar uma biblioteca e nela reunir os escritos de todo o mundo, tendo tido notícia dessas profecias, mandou uma embaixada a Herodes, que então era rei dos judeus, pedindo-lhe que mandasse os livros deles. O rei Herodes mandou os livros, como dissemos, em sua língua hebraica. Todavia, como seu conteúdo não podia ser entendido pelos egípcios, Ptolomeu pediu, por meio de uma nova embaixada, que Herodes enviasse homens para os verter para a língua grega. Depois disso, os livros permaneceram entre os egípcios até o presente e os judeus os usam no mundo inteiro. Estes, porém, ao lê-los, não entendem o que está escrito, mas considerando-nos inimigos e adversários, matam-nos, como vós o fazeis, e atormentam-nos sempre que podem fazê-lo, como podeis facilmente verificar. 

Com efeito, na guerra dos judeus agora terminada, Bar Kókeba, o cabeça da rebelião, mandava submeter a terríveis torturas somente os cristãos, caso estes não negassem e blasfemassem Jesus Cristo." (I Apologia 31)
Quanto ao Novo Testamento, não achamos nas obras de Justino qualquer referência.

Os livros sagrados segundo Ireneu de Lião (170 d.C)

Ireneu foi um dos maiores apologistas da fé genuína do segundo século. Foi bispo de Lião (França), discípulo de Policarpo bispo de Esmirna (discípulo de São João).

Antigo Testamento

Quanto ao Antigo Testamento Ireneu usava a versão dos Setenta (Septuaginta). Eusébio transcreve um trecho da obra de Ireneu, onde ele relata como a esta tradução foi realizada com o auxílio divino:
"Antes que os romanos tivessem estabelecido o império, e quando os macedônios ainda dominavam a Ásia, Ptolomeu, filho de Lagos, muito desejoso de enriquecer com os melhores escritos dos homens a biblioteca que instituíra em Alexandria, pediu aos habitantes de Jerusalém suas Escrituras traduzidas para a língua grega.
Estes, naquela época ainda sujeitos aos macedônios, enviaram a Ptolomeu setenta anciãos, dos mais peritos nas Escrituras e no conhecimento das duas línguas e realizou-se desta forma o plano de Deus.
Ptolomeu, querendo provar particularmente a perícia de cada um, e a fim de evitar que, por confronto entre si, eles falseassem na tradução a verdade contida nas Escrituras, separou-os uns dos outros e ordenou-lhes que todos escrevessem a tradução do mesmo texto; assim fez relativamente a todos os livros.
Mas, ao se reunirem no mesmo lugar com Ptolomeu, e conferindo as traduções, Deus foi glorificado e as Escrituras foram reconhecidas como realmente divinas, pois todos haviam expressado idéias idênticas com idênticas palavras, idênticos nomes, do começo ao fim. Desta forma, até os pagãos presentes reconheceram terem sido as Escrituras traduzidas sob inspiração de Deus.
Não é de admirar tenha Deus agido desta maneira. Efetivamente, perdidas as Escrituras por ocasião do cativeiro do povo sob Nabucodonosor, e tendo os judeus após setenta anos regressado a seu país, mais adiante, no tempo de Artaxerxes, rei dos persas, ele próprio inspirou o sacerdote Esdras da tribo de Levi [cf. Esd 9,38-41] relativamente à reconstituição das palavras dos profetas anteriores e à restauração entre o povo da legislação promulgada por Moisés." (HE V,8,10-15)

Novo Testamento

Eusébio transcrevendo trechos da obra de Ireneu, testemunha que segundo este as Escrituras do Novo Testamento são: "Mateus, no entanto, publicou entre os hebreus em sua própria língua um Evangelho escrito, enquanto Pedro e Paulo anunciavam a boa nova em Roma e lançavam os fundamentos da Igreja.
Mas, após a morte deles, Marcos, discípulo e intérprete de Pedro, transmitiu-nos por escrito igualmente o que Pedro pregara. Lucas, porém, companheiro de Paulo, deixou num livro o Evangelho pregado por este último. Enfim, João, o discípulo que reclinou sobre o peito do Senhor [cf. Jô 13,25. 21,20], publicou também ele um evangelho, enquanto residia em Éfeso, na Ásia." (HE V,8,2).
Eusébio afirma ainda que no quinto livro de "Contra as Heresias", Ireneu faz menção do Apocalipse de João, da primeira carta de Pedro, o Pastor e do livro Sabedoria de Salomão (cf. HE V,8,5-8). Ainda segundo Eusébio, Ireneu na obra "Exposições diversas" "relembra a carta aos Hebreus e a Sabedoria dita de Salomão, incluindo trecho de ambas." (HE V,26)
No entanto não podemos afirmar que Ireneu não recebia como canônicos os outros livros do que hoje compõe nosso Novo Testamento.

Os livros sagrados segundo Clemente de Alexandria

Segundo Eusébio, Clemente em sua obra Stromata "emprega também provas extraídas de Escrituras não aceitas de modo geral; cita, por exemplo, a Sabedoria dita de Salomão, a de Jesus filho de Sirac [Eclesiástico], a carta os Hebreus, as cartas de Barnabé, de Clemente [de Roma] e de Judas" (HE VI 13,6)
E continua: "Em Hyptyposes ele faz, em suma, exposições resumidas dos Testamentos de toda a Escritura, sem omitir as partes controvertidas, isto é, a Carta de Judas e as outras cartas católicas, e a carta de Barnabé e o Apocalipse, dito de Pedro. Acrescenta ser da autoria de Paulo a carta aos Hebreus, escrita para os hebreus em língua hebraica, mas que Lucas, depois de traduzi-la cuidadosamente, divulgou-a entre os gregos. Este o motivo por que se assemelham a tradução desta carta e os Atos" (HE VI,14,1-2). Eusébio ainda nos conta que Clemente ainda se refere à origem dos Evangelhos de Mateus e Marcos, dizendo que estes foram escritos primeiro (cf. HE VI,14,5-7).

Os livros sagrados segundo Orígines (+ ou - 212 d.C)

Antigo Testamento
Segundo o historiador eclesiástico da Igreja primitiva, Eusébio de Cesaréia "Ao explicar o salmo primeiro [na obra Stromata], Orígines apresenta um catálogo das Escrituras Sagradas do Antigo Testamento, escrevendo literalmente: 'Observe-se que os livros do Antigo Testamento, segundo a tradição hebraica, são vinte e dois, número das letras de seu alfabeto'. Em seguida, um pouco mais adiante prossegue: 'Os vinte e dois livros, conforme os hebreus, são os seguintes: O livro que damos o título de Gênesis, entre os hebreus traz inscrito, de acordo com as palavras iniciais: Bresith, que significam "No começo"; Êxodo, Ouellesmoth, isto é, "Eis os nomes", Levítico, Ouicra, isto é, "Ele me chamou"; Números, Ammesphecodeim; Deuteronômio, Elleaddebareim: "Estas são as palavras"; Jesus, filho de Navé [Josué], Iosouebennoun; Juízes, Rute, entre eles foram um só livro, Sophteim; Reis primeiro e segundo livros, entre eles um só, Samuel: "O eleito de Deus"; Reis, terceiro e quarto livros, em um só, Ouammelch David, isto é: "Reino de Davi"; Paralipomenos, primeiro e segundo livros, em um só, Dabreiamein, isto é, "Palavra dos dias"; Esdras, primeiro e segundo livros, em um só, Ezra, isto é, "Auxiliar"; Livro dos Salmos, Spharthelleim; Provérbios de Salomão, Meloth; Eclesiastes, Koeleth; Cântico dos Cânticos - e não como alguns julgam, Cântico dos Cânticos [esta observação de Eusébio é para indicar que não se trata do livro Cântico dos Cânticos, sim do Eclesiástico]-, Sirassereim ; Isaías, Iessia; Jeremias, com as Lamentações e a Carta em um só livro, Ieremia; Daniel, Daniel; Ezequiel, Ezechiel; Jó, Job; Ester, Esther. Além destes, os Macabeus, intitulados Sarbethsabanaiel'". (História Eclesiástica VI,25,1-2 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C).
Estranhamente Orígenes não cita os 12 profetas menores e nem Cântico dos Cânticos. Dos deuterocanônicos apenas reconhece os dois livros dos Macabeus e Sabedoria de Sirácida.


Novo Testamento

Segundo Eusébio quanto ao que hoje chamamos de Novo testamento o testemunho de Orígenes é:
"Conforme aprendi da tradição sobe os quatro Evangelhos, os únicos também indiscutíveis na Igreja de Deus que há sob os céus, foi escrito em primeiro lugar o evangelho segundo Mateus; este anteriormente fora publicano e depois Apóstolo de Jesus Cristo. Ele o editou para os fiéis vidos do judaísmo, redigindo-o em hebraico. O Segundo é o Evangelho segundo Marcos, que escreveu conforme as narrações de Pedro, o qual o nomeia seu filho [segundo o espírito] na carta católica, nesses termos: 'A que está em Babilônia [Roma], eleita como vós, vos saúda, como também Marcos, o meu filho' [cf. 1Pd 5,13]. E o terceiro é o Evangelho segundo Lucas, elogiado por Paulo [cf. 2Cor 8,18-19; 2Tm 2,8; Cl 4,14) e composto para os fiéis provenientes da gentilidade. Enfim, o Evangelho segundo João." (História Eclesiástica VI,25,4-6 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C).
Pelo testemunho de Orígenes os 4 Evangelhos são reconhecidos como canônicos em toda Igreja ("Conforme aprendi da tradição sobre os quatro Evangelhos, os únicos também indiscutíveis na Igreja de Deus que há sob os céus"). As palavras "os únicos indiscutíveis" testemunha que haviam ainda outros que eram aceitos por uns e renegados por outros.
Ainda sob a estreita de Eusébio "No quinto livro dos Comentários ao Evangelho segundo João, o mesmo Orígenes declara o seguinte acerca das Epístolas dos apóstolos: 'Paulo, digno ministro do Novo Testamento, não segundo a letra, mas segundo o espírito, depois de ter anunciado o evangelho desde Jerusalém e suas cercanias até o Ilírico [cf. Rm 15,19], não escreveu a todas as Igrejas que ele havia instruído; mesmo àquelas que a escreveu, enviou apenas poucas linhas." (História Eclesiástica VI,25,7 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C).
Aqui Orígenes reconhece como canônicas as cartas paulinas, embora não cite quais são. Quanto à controversa carta aos Hebreus, segundo Eusébio "Finalmente, externa-se da seguinte maneira sobre a Carta aos Hebreus, nas Homilias proferidas a respeito desta última: 'O estilo da epístola intitulada Aos Hebreus carece da marca de simplicidade de composição do Apóstolo, que confessa ele próprio ser imperito no falar, isto é, no fraseado [cf. 2Cor 11,6]; no entanto, a carta é grego do melhor estilo, e qualquer perito em diferenças de redação o reconheceria. Efetivamente, os conceitos da Epístola são admiráveis e em nada inferiores aos das genuínas cartas apostólicas. Há de concordar quem ouvir atentamente a leitura das cartas do Apóstolo'. Mas adiante [diz Eusébio], [Orígenes] adita essas afirmações: 'Mas, para exprimir meu próprio ponto de vista, diria que os pensamentos são do Apóstolo, enquanto o estilo e a composição originam-se de alguém que tem presente a doutrina do Apóstolo, e por assim dizer, de um redator que escreve as preleções de um mestre. Se, portanto, uma Igreja tem por certo que a carta provém do Apóstolo [Paulo], felicito-a, pois não será sem fundamento que os antigos a transmitiram como sendo da autoria de Paulo. Entretanto, quem escreveu a carta? Deus o sabe. A tradição nos transmitiu o parecer de alguns de ter sido redigida por Clemente, bispo de Roma [e discípulo de Pedro e Paulo], outros opinam ter sido Lucas, o autor do Evangelho e dos Atos.'" (História Eclesiástica VI,25,11 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C).

Como podemos ver, embora seja controversa a autoria da Carta aos Hebreus, Orígenes não só a considera canônica, como afirma que este é o mesmo parecer dos presbíteros que o antecederam. Observem que quanto ao livro dos Atos dos Apóstolos, Orígenes apenas mostra que o conhece, mas não emite seu parecer quanto à canonicidade do livro ("outros opinam ter sido Lucas, o autor do Evangelho e dos Atos").

Ainda na estreita de Eusébio, sobre os outros livros afirma: "Pedro, sobre quem está edificada a Igreja de Cristo, contra a qual não prevalecerão as portas do inferno [cf. Mt 16,18], deixou apenas uma carta incontestada, e talvez ainda outra, porém controvertida." (História Eclesiástica VI,25,8 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C). Orígenes não só reconhece a canonicidade da primeira epístola de São Pedro, como declara que o mesmo é o parecer comum da Igreja em seu tempo. E quanto à segunda Epístola que hoje se encontra em nosso cânon, ele afirma que não é aceita por todos ("e talvez ainda outra, porém controvertida").

E continua "Que dizer de João, que reclinou sobre o peito de Jesus [cf. Jo 13,25; 21,20], deixou um evangelho, assegurou ser-lhe possível compor mais livros do que poderia o mundo conter [cf. 21,25], e escreveu o Apocalipse, mas recebeu a ordem de se calar e não escrever as mensagens das vozes das sete trombetas [cf. Ap 10,4]?" (História Eclesiástica VI,25,9 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C). Aparece-nos que aqui afirmar a canonicidade do Apocalipse de João.

"Legou-nos também uma Carta de muito poucas linhas e talvez outra e ainda terceira, pois nem todos admitem que estas sejam autênticas; aliás, as duas juntas não abrangem cem linhas" (História Eclesiástica VI,25,10 - Eusébio de Cesaréia, 317 d.C). Quanto às cartas de São João Apóstolo e Evangelista, Orígenes diz que comumente era reconhecida como canônica somente a primeira carta. Ainda não havia na Igreja antiga um parecer comum quanto à canonicidade das outras duas ("e talvez outra e ainda terceira, pois nem todos admitem que estas sejam autênticas").

Como podemos ver, segundo Eusébio, Orígenes não emitiu nenhum parecer quanto às outras cartas que hoje consideramos canônicas que são as Epístolas Universais de São Judas Tadeu e São Tiago Menor e o livro de Atos.
Desta forma segundo Orígenes as Escrituras Sagradas são compostas pelos seguintes livros:

Antigo Testamento

1 - Gênesis (Bresith)
2- Êxodo (Ouellesmoth)
3- Levítico (Ouicra)
4- Números (Ammesphecodeim)
5 -Deuteronômio (Elleaddebareim)
6- Josué (Iosouebennoun)
7- Juíses e Rute (Sophteim)
8 - I e II Reis [I e II Samuel] (Samuel)
9 - III e IV Reis [I e II Reis] (Ouammelch David)
10 - Paralipomenos [I e II Crônicas] (Dabreiamein)
11 - I e II Esdras [Esdras e Neemias] (Ezra)
12 - Livro dos Salmos [Salmos] (Spharthelleim)
13 - Provérbios de Salomão [Provérbios] (Meloth)
14 - Eclesiastes (Keoleth)
15 - Cântico dos Cânticos [Eclesiástico] (Sirassereim)
16 - Isaías (Iessia)
17 - Jeremias, Lamentações e a Carta de Jeremias [Jeremias] (Ieremia)
18 - Daniel
19 - Ezequiel (Ezechiel)
20 - Jó (Job)
21 - Ester (Esther)
22 - Macabeus [I e II Macabeus] (Sarbethsabanaiel)
Novo Testamento
1 - Evangelho Segundo São Mateus
2 - Evangelho Segundo São Marcos
3 - Evangelho Segundo São Lucas
4 - Evangelho Segundo São João
5 - Apocalipse
6 - Atos (?)
7 - As Cartas Paulinas [será que incluía a Epístola aos Laodicenses?]
8 - Primeira Epístola de São Pedro
9 - Primeira Epístola de São João

A Lista de Santo Atanásio de Alexandria (367 dC)

No ano 367 dC, por ocasião da Festa da Páscoa, Santo Anatásio Bispo de Alexandria, escreve uma epístola onde relaciona os livros normalmente aceitos como canônicos pelos cristãos de seu tempo. A necessidade ocorre pq alguns hereges estavam escrevendo livros espúrios e atribuindo-os a autoria dos apóstolos e seus discípulos, para assim dar legitimidade e autoridade aos livros.
Antigo Testamento

"Há, portanto, 22 Livros do Antigo Testamento, número que, pelo que ouvi, nos foram transmitidos, sendo este o número citado nas cartas entre os Hebreus, sendo sua ordem e nomes respectivamente, como se segue: Primeiro, o Gênesis. Depois, o Êxodo. Depois, o Levítico. Em seguida, Números e, por fim, o Deuteronômio. Após esses, Josué, o filho de Nun. Depois, os Juízes e Rute. Em seguida, os quatro Livros dos Reis, sendo o primeiro e o segundo listados como um livro, o terceiro e o quarto também, como um só livro. Em seguida, o primeiro e o segundo Livros das Crônicas, listados como um só livro. Depois, Esdras, sendo o primeiro e o segundo igualmente listados num só livro. Depois desses, há o Livro dos Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes e o Cântico dos Cânticos. O Livro de Jó. Os doze Profetas são listados como um livro. Depois Isaías, um livro. Depois, Jeremias com Baruc, Lamentações e a Carta [de Jeremias], num só livro. Ezequiel e Daniel, um livro cada. Assim se constitui o Antigo Testamento." (Epístola 39,4 - Santo Atanásio de Alexandria, 367 d.C).

Esta lista de 22 livros apresentada por Atanásio parece muito com o cânon judaico definido em Jâmnia (+ ou - 110 d.C), senão fosse pela exclusão de Ester e a inclusão de Baruc (livro deuterocanônico). Como a Igreja ainda não havia se pronunciado oficialmente sobre quais livros faziam parte da Sagrada Escritura, Atanásio refere-se a um cânon "citado nas cartas entre os Hebreus" e que pela divergência em relação ao cânon oficial judaico, nos faz pensar que estas cartas foram escritas antes do sínodo de Jâmnia. Para completar seu cânon, também faz uso da tradição dos presbíteros que lhe antecederam:

"Mas, para uma maior exatidão, acrescento também, escrevendo para não me omitir, que há outros livros, além desses, de fato incluídos no Cânon, indicados pelos Padres para leitura por aqueles recém-admitidos entre nós e que desejam receber instrução sobre a Palavra de Deus: a Sabedoria de Salomão, a Sabedoria de Sirac [Eclesiástico], Ester e Judite, Tobias, bem como aqueles chamados Ensinamento dos Apóstolos [Didaqué] e o Pastor. Quanto aos primeiros, meus irmãos, foram incluídos no Cânon; mas os últimos são para leitura, não havendo em lugar nenhum menção a eles como sendo escritos apócrifos." (Epístola 39,7 - Santo Atanásio de Alexandria, 367 d.C)
Como podemos observar dos deuterocanônicos Atanásio apenas exclui os livros dos Macabeus.

Novo Testamento

"Não é tedioso repetir os [livros] do Novo Testamento. São os quatro Evangelhos, segundo Mateus, Marcos, Lucas e João. Em seguida, o Atos dos Apóstolos e as sete Epístolas, ou seja: de Tiago, uma; de Pedro, duas; de João, três; de Judas, uma. Em adição, vêm as 14 Cartas de Paulo, escritas nessa ordem: a primeira, aos Romanos, as duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, uma aos Colossenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Hebreus, duas a Timóteo, uma a Tito e, por último, uma a Filemon. Além disso, o Livro da Revelação de João [Apocalipse]." (Epístola 39, Santo Atanásio de Alexandria, 367 d.C).
Como podemos ver o Novo Testamento de Atanásio é o mesmo que hoje guardamos.
Desta forma segundo Atanásio de Alexandria as Escrituras Sagradas são compostas pelos seguintes livros:

Antigo Testamento
1 - Gênesis
2- Êxodo
3- Levítico
4- Números
5 -Deuteronômio
6- Josué
7- Juíses
8 - Rute
9 - I e II Reis [I e II Samuel]
10 - III e IV Reis [I e II Reis]
11 - I e II Crônicas
12 - I e II Esdras [Esdras e Neemias]
13 - Salmos
14 - Provérbios
15 - Eclesiastes,
16 - Cântico dos Cânticos
17 - Jó
18 - Os doze profetas
19 - Isaías
20 - Jeremias, a Carta de Jeremias [Jeremias], Lamentações e Baruc
21 - Ezequiel
22 - Daniel
23 - Sabedoria de Salomão
24 - Sabedoria de Sirac [Eclesiástico]
25 - Ester
26 - Judite
27 - Tobias
Novo Testamento
Igual ao que guardamos hoje.

O Cânon de Melitão de Sardes (- ou - 120 d.C)

Segundo Eusébio, Melitão bispo da Igreja de Sardes "Nas Éclogas por ele exaradas, o mesmo autor, já no início do prefácio, cataloga os livros recebidos do Antigo Testamento. É oportuno reproduzi-lo aqui. Assim escreve: ?Melitão a Onésimo, seu irmão. Saudações, Visto que muitas vezes manifestaste o desejo, inspirado pelo zelo relativamente à doutrina, de possuir extratos da Lei e dos profetas sobre o Salvador e o conjunto de nossa fé, e ainda quiseste conhecer com exatidão o número dos antigos livros e a ordem que seguem, dediquei-me a tal tarefa, uma vez que conheço teu zelo pela fé e tua aplicação ao estudo da doutrina. O Amor de Deus sobretudo faz com que o aprecies, enquanto lutas tendo em mira a salvação eterna.

Tendo ido, portanto, ao Oriente e tendo estado até mesmo no lugar onde a Escritura foi anunciada e cumprida, tive exato conhecimento acerca dos livros do antigo Testamento. Levantei uma lista, que te envio. São os seguintes os seus nomes: de Moisés cinco livros: Gênesis, Êxodo, Números, Levítico, Deuteronômio; Jesus Navé [Josué], Juízes, Ruth; quatro livros dos Reis [I e II Samuel e I e II Reis], dois dos Paralipômenos [I e II Crônicas]; Salmos de Davi, Provérbios ou Sabedoria de Salomão [Provérbios e Sabedoria]; Eclesiastes, Cântico dos Cânticos, Jó; profetas: Isaías, Jeremias e os Doze num só livro; Daniel, Ezequiel, Esdras. Destas obras extraí alguns trechos, que distribuí por seis livros.? Tais as palavras de Melitão" (HE IV,26,14.)
1 - Gênesis
2- Êxodo
3- Levítico
4- Números
5 -Deuteronômio
6- Josué
7- Juíses
8- Ruth
9 - I e II Reis [I e II Samuel]
10 - III e IV Reis [I e II Reis]
11 - I e II Crônicas
12 - Salmos de Davi
13 - Provérbios e Sabedoria
14 - Eclesiastes
15 - Cântico dos Cânticos
16 - Jó
17 - Isaías
18 - Jeremias [Jeremias e Lamentações]
19 - os Doze profetas
20 - Daniel
21 - Ezequiel
22 - Esdras [Esdras e Neemias]
Melitão exclui Ester, e inclui o livro da Sabedoria.

Citações de Eusébio (317 d.C) 

Eusébio cita trechos do historiador judeu Filón de Alexandria, em que este por admirar o modo de vida cristão, começa a relatar como os cristãos viviam e como eram suas assembléias. Depois Eubébio comenta que todas as coisas de que escreveu Filóm "De fato, relatam os Atos dos Apóstolos, livro tido por autêntico " (HE II,17,6)

As Escrituras em Geral

Segundo Eusébio, Fílon em sua obra "A Vida contemplativa" ou "Os orantes", sobre as escrituras cristãs escreve: "Possuem também escritos dos antigos, primeiros guias de sua seita, que deixaram numerosos monumentos de sua doutrina sob forma alegórica. Utilizam-nas como modelos de comportamento a imitar." (HE II,17,11) Para Eusébio "Talvez os livros que ele aponta como sendo entre eles [os cristãos] os livros dos antigos sejam os evangelhos, e os escritos dos apóstolos e provavelmente algumas interpretações dos antigos profetas, tais os contidos na carta aos Hebreus e numerosas cartas de Paulo." (HE II,17,12)
Mas a frente Eusébio nos dá um parecer mais detalhado sobre as cartas apostólicas recebidas ou as rejeitadas como autênticas:
Os Escritos de São Pedro
"Com efeito, de Pedro, apenas uma carta, classificada como primeira, é reconhecida por autêntica e os próprios antigos presbíteros utilizaram-na, citando-a em seus escritos como genuína. Quanto àquele enumerada como segunda, tivemos notícia de que não é testamentária, todavia muitos a consideram útil e foi tomada em consideração com as demais Escrituras." (HE III,3,1)

Mais adiante ele escreve: "... as palavras de Pedro indicam também em que províncias ele próprio anunciou Cristo e transmitiu a doutrina do Novo Testamento aos circuncisos. Esclarece-o igualmente a carta que afirmamos ser tida por autêntica [a primeira carta], dirigida aos hebreus da Dispersão do Ponto, da Galácia, da Capadócia, da Ásia e da Bitínia [cf. 1Pd 1,1]" (HE III, 4,2)
"Relativamente aos Atos que trazem seu nome [portanto, Atos de Pedro], ao Evangelho dito segundo Pedro, ao Kerygma e ao suposto Apocalipse de Pedro, sabemos que não foram de modo algum transmitidos entre os escritos católicos e que nenhum escritor eclesiástico, nem dentre os antigos, nem dos atuais, utilizou testemunhos tirados destas obras." (HE III,3,2)

Mas adiante confirma seu parecer quanto aos escritos atribuídos a São Pedro: "Dos escritos atribuídos a Pedro, conheço apenas uma carta reconhecida pelos antigos presbíteros como autêntica. E é só" (HE III,3,4)
 
Os Escritos de São Paulo

Quanto às cartas paulinas escreve: "No tocando a Paulo evidentemente dele provêm as catorze cartas. Não seria justo deixar de reconhecer que alguns, no entanto, rejeitam a carta aos Hebreus, assegurando não ser recebida pela Igreja de Roma, por não ser da autoria de Paulo. [...] De outro lado, os Atos que trazem seu nome [portanto, Atos de Paulo], não os aceito entre os livros autênticos." (HE III,3,5)

Eusébio testemunha que muitos dos antigos não recebiam como canônica a Carta aos Hebreus, tal era o caso de "Caio de Roma, homem muito eloqüente, que vivia em Roma no tempo de Zeferino [bispo de Roma], num Diálogo contra Proclo, que disputava em favor da heresia catafrígia. Nesta obra, Caio refreia a temeridade e audácia dos adversários de comporem novas Escrituras; menciona somente treze cartas do santo Apóstolo [Paulo], não enumerando entre as demais a carta aos Hebreus, visto que, ainda hoje, em Roma pensam alguns não ser da autoria do Apóstolo." (HE VI,20,3).
Eusébio, dá testemunho que o livro "O Pastor" de Hermas, era tido como canônico por alguns:
"Visto que o mesmo apóstolos [Paulo], nas saudações finais da carta aos Romanos entre outros, menciona Hermas [cf. Rm 16,14], a quem se atribui o livro intitulado Pastor, é bom saber que também este é contestado por alguns que não o colocam entre as obras recebidas, enquanto outros julgam-no muito útil, principalmente para os necessitados de iniciação elementar. Estamos cientes de que é lido publicamente nas Igrejas e verifiquei ter sido empregado por alguns dos autores mais antigos." (HE III,3,6)

O Evangelho de Lucas e os Atos

Sobre o Evangelho de Lucas e o livro dos Atos diz: "Deles [dos apóstolos] [Lucas] aprendeu a cura das almas, conforme comprovou nos dois livros inspirados por Deus, o Evangelho que ele atesta ter composto conforme lhe transmitiram os que foram desde o início testemunhas oculares e ministros da palavra e aos quais seguiu desde o começo [cf. Lc 1,2-3] e os Atos dos Apóstolos, que não redigiu de acordo com o que ouviu, mas ao invés com o que viu com os próprios olhos." (HE III,4,6)

Os Escritos de São João

Quanto aos escritos de São João escreve que: "E agora, assinalemos os escritos provindos incontestavelmente deste apóstolo. Em primeiro lugar, sem dúvida, há de ser recebido o Evangelho segundo João, reconhecido por todas as Igrejas debaixo do céu. Com razão os antigos colocam-no em quarto lugar, após os três outros [....]" (HE III,24,1-2)
Depois mais adiante: "Dos escritos de João além do Evangelho, a primeira das cartas não sofre contestação nem da parte de nossos contemporâneos, nem dos antigos. As duas outras são contestadas. Quanto ao Apocalipse, sua autenticidade é ainda discutível para muitos. De novo há de ser ponderada, a seu tempo, segundo o testemunho dos antigos" (HE III,24,17-18)

"A esta altura, parece-nos oportuno recapitular os escritos do Novo Testamento a que nos referimos. Sem dúvida, importa pôr em primeiro lugar o sagrado quaternário dos Evangelhos, seguido do livro dos Atos dos Apóstolos.
Em seguida, sejam mencionadas as Cartas de Paulo, na continuação das quais seja sancionada a primeira a João e igualmente a primeira carta de Pedro. No prosseguimento destas obras, colocar-se-á, se conveniente, o Apocalipse de João [....]. Tais são os livros recebidos. Entre os contestados mas apesar disso recebidos pela maioria, existe a carta atribuída a Tiago, a de Judas, a segunda carta de Pedro e as cartas enumeradas como segunda e a terceira de João, que sejam do Evangelista ou do outro, com idêntico nome." (HE III,25)

Eusébio cita ainda o testemunho de Dionísio, presbítero de Alexandria e historiador da Igreja do início do segundo século. Segundo Eusébio, Dionísio reconhecia como canônicas o Evangelho de João e a primeira carta (cf. HE, VII,25). Dionísio dá testemunho que alguns de seus predecessores não recebiam como canônico o livro do Apocalipse: "Alguns dos nossos predecessores rejeitaram e repeliram inteiramente este livro. Criticaram-no capítulo por capítulo, declarando-o inteligível, ilógico e falsamente intitulado. Afirmam, de fato, não provir de João, nem ser uma revelação, porque completamente oculta sob o véu espesso do incognoscível" (HE, VII,25,1-2).

Os antigos presbíteros de Alexandria duvidavam até que o livro fosse de autoria de São João, atribuindo-lhe ao herege Cerinto a autoria do livro: "[...] o autor não seria um dos apóstolos, nem mesmo um dos santos ou membros da Igreja, e sim Cerinto, o fundador da heresia cerintiana, nome derivado do seu, o qual procurou dar sua produção um nome digno de crédito" (HE, VII,25,2).

No entanto, Dionísio prefere não duvidar da canonicidade do livro: "No entanto, não ouso rejeitar este livro que muitos irmãos apreciam, mas julgando que suas concepções ultrapassam meu entendimento, suponho ter cada passagem, de certo modo, significado oculto e maravilhoso. De fato, se não o compreendo, ao menos suspeito existir sob as palavras um sentido mais profundo.

Não meço, nem aprecio segundo meus próprios raciocínios; mas, atribuindo prioridade á fé, penso tratar-se de realidades elevadas demais para serem aprendidas por mim e não rejeito o que não compreendo, mas admiro-o tanto mais quanto não o contemplei." (HE, VII,25,4-5)
Dionísio duvidava apenas que o Apocalipse fosse de autoria do Santo Apóstolo João: "Por conseguinte, que ele [o autor do livro] se chame João e este escrito se origine de João, não direi o contrário e concedo que se trata de homem santo e inspirado por Deus. Mas, não concordo facilmente que seja o apóstolo, filho de Zebedeu, irmão de Tiago, de quem são o Evangelho intitulado Segundo João e a carta católica [a primeira carta]" (HE, VII,25,7)

Conclusão de Eusébio

"Entre os apócrifos, ponham-se o livro dos Atos de Paulo, a obra intitulada O Pastor, o Apocalipse de Pedro, e além disso a Carta atribuída a Barnabé, o escrito chamado A doutrina dos Apóstolos [Didaqué], depois como já disse, o Apocalipse de João, se parecer bem. Alguns, conforme já declarei, o rejeitam, mas outros o inserem entre os livros recebidos.

Entre esses livros alguns ainda puseram o Evangelho segundo os Hebreus, que agrada sobretudo aos hebreus que aderiram a Cristo. Todos esses livros estão no número dos escritos contestados.

Achamos necessário fazer igualmente o catálogo dessas últimas obras, separando-as das Escrituras que segundo a tradição da Igreja, são verdadeiras, autênticas e reconhecidas, dos livros que, ao invés, não são testamentários, mas contestados, apesar de serem conhecidos pela maior parte dos escritores eclesiásticos. Assim, poderemos conhecer esses livros e os que, entre os hereges, são apresentados sob o nome do apóstolos, que se trate dos Evangelhos de Pedro, de Tomé, de Matias etc., ou dos Atos de André, de João e dos outros apóstolos. Jamais entre os escritores eclesiásticos que se sucederam, houve quem julgasse conveniente relembrá-los." (HE III,25)

Autor: Alessandro Lima

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vídeo com imagens inéditas de São Padre Pio de Pietrelcina

Os Santos sim intercedem pelos fiéis



        Uma das maiores duvida criadas com a figura dos santos é sua capacidade de serem mediadores entre Deus e os homens. Devido à passagem bíblica de 1Tim 2:5 muitos têm feito uma interpretação errada. Diz: "Pois há um só Deus, e um só mediador entre Deus e os homens, um homem, Cristo Jesus". A primeira interpretação nos diria que não cabe dúvida de que só Jesus é o mediador entre Deus e os homens, portanto, afirmar que a intercessão dos santos é possível seria algo antibíblico, mas, a realidade é que não a contradiz.
Muitos destas interpretações se apóiam em prejuízos contra a Igreja e a grande maioria de interpretadores fundamentalistas termina contradizendo-se. Isto também se deve à ignorância sobre o que ensina a Igreja Católica.

          Em 1 Tim 2, 5 se utiliza a palavra "mesités" (mediador) e também em outras passagens do Novo Testamento da Bíblia em grego, um termo que principalmente aparece junto a "aliança": Jesus é o mediador da nova aliança.

          Quando na parte final de 1 Tim 2, 5 se diz " Cristo Jesus homem", nota-se a intenção do apóstolo Paulo por demonstrar que é como homem que Jesus é capaz de ser o reconciliador e mediador para o homem. Já que o pecado veio da desobediência do ser humano o único que pode redimi-lo deverá ser humano. Alguns quiseram utilizar esta mensagem de Paulo para lhe tirar o ofício de mediadora à Igreja e acrescentam arbitrariamente a entrevista de Col 1,18: "Cristo é a cabeça do corpo, que é a Igreja", mas o caráter de mediador em Jesus é parte de sua função como homem e não como cabeça da Igreja.
É importante destacar que algo em que católicos e protestantes estão de acordo sobre o texto é que Paulo destaca que Jesus é verdadeiro homem e não só um mediador. O texto não vai a contraposição da Igreja, salvo que se busque uma quinta pata no gato.

          Os seguintes comentários tratam o termo mediador:
"Que Cristo seja o único mediador não significa que tenha terminado o papel dos homens na história da salvação. A mediação de Jesus reveste aqui abaixo sinais sensíveis: são os homens, a quem Jesus confia uma função para com sua Igreja; inclusive na vida eterna associa Jesus Cristo, em certa maneira, a sua mediação os membros de seu corpo que entraram na glória. (...) Os que desempenham não são, propriamente falando, intermediários humanos com uma missão idêntica a que tiveram os mediadores do AT; não acrescentam uma nova mediação a do único mediador: não são a não ser os meios concretos utilizados por este para chegar aos homens. (...) Evidentemente, esta função cessa uma vez que os membros do Corpo de Cristo se reuniram com sua cabeça em sua glória. Mas então, em relação aos membros da Igreja que lutam ainda na terra, os cristãos vencedores exercem ainda uma função de outra índole. Associados à realeza de Cristo (Rev 2,26s; 3,21; cf. 12,5; 19,15), que é um aspecto de sua função mediadora, apresentam a Deus as orações dos Santos daqui abaixo (5,8; 11,18), que são um dos fatores do fim da história." (Leon-Dufour, Vocabulário de Teologia Bíblica)

           "Os cristãos compartilham a autoridade do rei dos reis, constituindo-se em mediadores sacerdotais no mundo da humanidade." ( Harrington, Revelation)
O cristão quando reza por outro ou a um santo, sua oração é em Cristo, não pensando que Cristo não tem nada a ver na oração. Nossa oração não exclui a mediação de Cristo mas sim é uma mediação participada de sua mediação. Assim, na Escritura se demonstra como muitas qualidades de Deus nos atribuem.
O Catecismo da Igreja Católica nos indica (956):

            Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade... Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na terra... Sua solicitude fraterna ajuda, pois, muito a nossa debilidade.
Muitos cristãos pensam que os Santos e todos os que morrem já não podem rezar. É um engano incrível pensar que Deus não permita que o amor dos santos siga vivendo ao rezar por seus seres amados, pois se esquece que nosso Pai é Deus de vivos, e não de mortos. "Os quatro viventes e os vinte e quatro anciões se prostraram diante do Cordeiro. Tinha cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfumes, que são as orações dos santos" (Ap 5,8).

              A mediação dos Santos é real e verdadeiramente forte já que eles vivem a Glória de estar com Cristo nos Céus, e seguindo de novo o apóstolo Paulo quando diz: "Exorto, pois, acima de tudo que se façam pedidos, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens (1 Tim 2,1)", os cristãos têm a necessidade de orar para viver o amor reconciliador que nos ensinou Jesus ao nos abrir as portas da Casa do Pai.

http://www.acidigital.com/apologetica/santos.htm

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quanto à observação do Domingo pela Igreja Católica.

A santificação do domingo foi sendo tomada pela Igreja cristã de maneira obrigatória ao decorrer dos séc. II ao séc. IV a própria [ecclesia] prescreverá canonicamente o costume oriundo dos cristãos primitivos, em referencia a Ressurreição de Cristo, como lei.
Os primeiros sínodos também chamados de concílios regionais, o primeiro a tratar e aludir o assunto foi o Concílio de Elvira, por volta do ano 300, que estabeleceu consequências e normas penais para os fiéis, que depois de três ausências à Igreja em dia de domingo receberiam. Seguiram-se outros decretos de concílios particulares.
 Em 325 no I Concílio Ecumênico de Niceia, a Igreja declara,
“Nos dias do Senhor e de Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados”.
“Doravante, com o intento de que todas as coisas sejam uniformemente observadas em todo lugar (em cada paróquia), como há pessoas que se ajoelham no Dia do Senhor e nos dias de Pentecostes, pareceu correto a este santo Sínodo que as preces sejam feitas a Deus, ficando todos de pé.” (Cânones do Concílio de Niceia I, Cânon XX.).
No séc. VI, temos como um dos inúmeros testemunhos referentes à observância do Domingo, a obra escrita por São Martinho de Braga, com o intuito primário de salientar aos cristãos a condição de afastamento total que os mesmos deveriam deter junto a praticas e costumes pagãos, sendo uma forma pessoal de “Instrução Pastoral sobre Superstições Populares” para sua época, este escrito testemunha o costume cristão de observar o Domingo ao Bispo Polémio.
“O dia do Senhor, que, por isso mesmo se chama domingo, dado que o Filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo, nele ressuscitou dos mortos, não o desrespeiteis, mas cultuai-o com reverência. Trabalho servil é cuidar do campo, do prado, da vinha, ao menos enquanto se trata de trabalho pesado, não o façais em dia de domingo, excetuando apenas o que respeita aos afazeres da cozinha para satisfazer as necessidades do corpo e a necessidade de uma longa viagem. No dia do Senhor é permitido ir a sítios próximos, mas não para ocasiões de pecado, antes de boas ações, como seja, ir a locais santos, visitar um irmão ou amigo, assistir um doente ou levar um bom conselho a um atribulado ou ajuda para boa causa. É assim, pois, que convém que o homem cristão venere o dia do Senhor. Na verdade seria por demais iníquo e vergonhoso que aqueles que são pagãos e ignoram a fé de Cristo, porque prestam culto aos ídolos dos demônios, cultuem o dia de Júpiter ou de qualquer outro demônio, e se abstenham de trabalhos quando é sabido que nunca os demônios criaram qualquer dia ou ele lhes pertence e nós, que adoramos o verdadeiro Deus e cremos que o Filho de Deus ressuscitou dos mortos, quanto ao dia da sua ressurreição, ou seja, o domingo, não o respeitássemos minimamente! Não façais, pois, injúria à ressurreição do Senhor, mas honrai-a e cultuai-a com reverência, pela esperança que temos relativamente a ela. Na verdade, assim como Ele, Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, que é a nossa cabeça, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos na sua carne, assim também nós, que somos seus membros, esperamos vir a ressuscitar na nossa carne, no fim do mundo, a fim de cada qual receber ou o descanso eterno ou a pena eterna; consoante procedeu com o seu corpo neste século, assim receba.” (Da Correção dos Rústicos [De Correctione Rusticorum] , nº 18, S. Martinho de Braga +579.)
Na Liturgia católica, destacou-se em papel principal o Domingo cujo era dia natural para a celebração da Eucaristia e culto ao Senhor, desde os primórdios até séculos posteriores a celebração dominical foi mantida pela Igreja em todos os lugares.
Veja abaixo como o costume detinha importância magnânima até na figura e função do Bispo quanto à liturgia, no fim do séc. II e no séc. VI.
 “No domingo pela manhã, o bispo distribuirá a comunhão, se puder, a todo o povo com as próprias mãos, cabendo aos diáconos o partir do pão; os presbíteros também poderão parti-lo.” (S. Hipólito de Roma +235: Tradição Apostólica, Cap. 3).
 “Nós acreditamos que o domingo da ressurreição teve lugar no primeiro dia (da semana) e não no sétimo, como muitos pensam. É o dia da ressurreição do Nosso Senhor Jesus Cristo que nós chamamos precisamente domingo, por causa da santa ressurreição. Foi o primeiro dia que viu a luz no começo do mundo, e foi o primeiro que mereceu contemplar o Senhor ressuscitando da tumba.” (História dos Francos (Historia Francorum; Liv. I, Cap. XXII, S. Gregório de Tours +594.).
Outro relato histórico importante para analisarmos como o Domingo posteriormente foi adotado pelo Império Romano, encontra-se nos Extratos sobre Religião no famoso Código de Teodósio, que começaram a ser escritos depois do século VI.
"No Dia do Senhor - isto é, o primeiro dia da semana - durante o Natal e também na Epifania, Páscoa e Pentecostes, considerando que as vestes [brancas dos cristãos] simbolizarão a luz da limpeza celestial, testemunhando a nova luz do sagrado batismo, também no tempo de sofrimento dos apóstolos - exemplos para todos os cristãos - os prazeres oferecidos pelos teatros e jogos deverão estar indisponíveis ao público, em todas as cidades, e toda meditação dos cristãos e crentes deverão se ocupar com a adoração de Deus. E se alguém se afastar da adoração em virtude da louca impiedade dos judeus ou por erro do insano e tolo paganismo, este deverá ficar sabendo que existe uma hora para rezar e outra para se divertir. E para que ninguém possa pensar que está obrigado a adorar nossa pessoa - como se tivesse grande necessidade de [cumprir] seu ofício imperial - ou tente dar sustentação aos jogos como desobediência da proibição religiosa [pagã], estará este ofendendo a nossa serenidade, demonstrando menos devoção para conosco; ninguém duvide que nossa clemência é reverenciada pela humanidade, no mais alto grau, quando a adoração de todo o mundo é prestada ao Deus todo-poderoso e todo-bondade". Teodósio Augusto e César Valentiniano. (Imperador Teodósio, no chamado Código de Teodósio, XV, 5, 1).
O Concílio de Viena (1311-1312) menciona a principal atividade do cristão no Domingo;
“[...] nos domingos e festas, quando as pessoas reúnem-se para adoração divina, [...]." (Decretos, N º 7)
A Observância do Dia do Senhor chegou a tal plenitude, no Ocidente que o Concílio de Florença (1431-1445) declarou;
"A fim de evitar demasiado intercurso, devem ser feitos pelos que habitam em zonas, das cidades e vilas, que estão para além das habitações dos cristãos e, distante de igrejas. Na medida do possível. Aos domingos e outras festas solenes não devem atrever-se a ter as suas lojas abertas para o trabalho ou em público." (SESSÃO 19: 7 Set. 1434).
E só no século XX o Código de Direito Canônico de 1917 compilou pela primeira vez essa tradição numa lei universal, hoje corporificada no 1º Preceito da Igreja: “Ouvir Missa inteira nos Domingos e Festas de Guarda”.
O Concílio Vaticano II: Também mencionou a observância do Domingo, além de citar o costume e tradição que exerce o domingo junto aos fiéis.
“Por tradição apostólica, que nasceu do próprio dia da Ressurreição de Cristo, a Igreja celebra o mistério pascal todos os oito dias, no dia que bem se denomina dia do Senhor ou domingo. Neste dia devem os fiéis reunir-se para participarem na Eucaristia e ouvirem a palavra de Deus, e assim recordarem a Paixão, Ressurreição e glória do Senhor Jesus e darem graças a Deus que os »regenerou para uma esperança viva pela Ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos» (1 Pedr. 1,3). O domingo é, pois, o principal dia de festa a propor e inculcar no espírito dos fiéis; seja também o dia da alegria e do repouso.” (Constituição Conciliar Sacrosantium Conclilium, Vaticano II: nº. 106;
O Atual catecismo declara:
“O Domingo, «Dia do Senhor», é o dia principal da celebração da Eucaristia, porque é o dia da ressurreição. É o dia por excelência da assembleia litúrgica, o dia da família cristã, o dia da alegria e do descanso do trabalho.” (CIC, nº 1193).

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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Inquisição exterminou 30 milhões de pessoas?


Para muitos estes supostos dados de “milhões de mortes” deixam claro e em evidencia o obscurantismo e a corrupção da Igreja durante a “Idade das Trevas” Mais podemos afirmar estes números que pressupõem que um verdadeiro “holocausto” foi promovido por parte do clero da Igreja Católica?
É comum vermos na literatura secular, em filmes e documentários, pior nas escolas do ensino fundamental e médio e até em faculdades e universidades, a afirmativa de que a Igreja “torturou e matou milhares”, alguns dizem milhões de pessoas com a Inquisição. Há também vários ambientes acadêmicos no Brasil em que é nítida esta linha interpretativa, são muitos autores e professores universitários a partilhar dessas objeções.

É inegável a existência da Inquisição, afirmar isto seria uma aberração um erro grotesco de história, mais a crítica aqui é dirigida aos números de motes e incidentes referentes aos cerca de 386 anos de atuação, deste tribunal eclesiástico.
Muitos podem até dizer que números não importam, mesmo assim ela “matou e torturou”, mas os números representam o maior pretexto e fonte de contradições ao tema, pois tendem a alimentar e propagar a ideia de uma tragédia história, sem controle, um crime um perverso ato criminoso vindo da Igreja, mais levando em conta os fatores, o contexto e as posições religiosas da época estaria correto afirmar estas posições subjetivas nascidas do nosso cunho contemporâneo? Que foi uma ferramenta de perseguição e extermínio de quem usava pensar diferente?

Vale salientar que estas sociedades eram nitidamente ligadas ao bem e ‘alegria social’ (Pernoud, 1997) e da religião “em função da fé cristã” (Daniel Rops, Vol. III. p. 43), tinha como ferramentas a prevenção através da condenação, para evitar a contaminação de confusões e divisões que ruíam ‘todo o sistema e ordem social da época’ (Gonzaga, 1994) além da propagação de heresias e divisões entre os fieis da Cristandade, assim os códigos penais civis abraçavam e previam comumente a tortura e a morte do réu. E o povo entendia que estes eram os princípios jurídicos e inquisidores (cf. Mt 18,6-7).

Mas seriam verdadeiros estes indicies sobre a Inquisição? Ou é maquinação vinda dos inimigos da religião que tiram proveito não só da Inquisição ou Cruzadas, mais dos erros e faltas morais de alguns filhos da Igreja para fazer de “cavalo de batalha na sua guerra contra a religião e para perpetuamente as estarem lançando em rosto à Igreja.” como disse o historiador e Pe. W. Devivier, S.J.  Fato que “é da natureza da Igreja provocar ira e ataque do mundo” segundo Hilaire Belloc.

A questão aqui tratada não é amenizar os efeitos da Instituição ou fazê-la mais branda, mas trazer a tona os fatos e verdadeiros números cujos estudiosos sérios testemunham para que possamos construir uma justa compreensão sobre o tema sem nos veicularmos a nenhuma propaganda anticatólica.
Vamos tomar como ponto as Atas do grande simpósio Internacional que reuni mais de 30 grandes historiadores, de diversas confissões religiosas para tratar historicamente da Inquisição, proposta vinda da Igreja. João Paulo II perguntou certa vez perguntou “Na opinião do publico, a imagem da Inquisição representa praticamente o símbolo do escândalo”. “Até que ponto essa imagem é fiel à realidade” pergunta crucial.

O encontro aconteceu entre 29 a 31 de Outubro de 1998. Com total abertura dos arquivos da Congregação do Santo Oficio e da Congregação do Índice. Anos depois as Atas deste Simpósio foram reunidas e apresentadas ao publico sob forma de Livro com 783 paginas com o titulo original “L’Inquisione” pelo historiador Agostinho Borromeo, professor da Universidade de La Sapienza de Roma. O mesmo historiador lembrou “Para historiadores, porem, os números têm significado” (Folha de S. Paulo, 16 junho 2004).

Entre os dados do simpósio cuja documentação já foi utilizada em vários obras, e continua a ser, consta entre os em resumo aos dados as seguintes afirmações declaradas pelo historiador Agostinho Borromeo.

Sobre a “famigerada e terrível” Inquisição Espanhola:
“A Inquisição na Espanha celebrou, entre 1540 e 1700, 44.674 juízos. Os acusados condenados à morte foram apenas 1,8% (804) e, destes, 1,7 (13) foram condenados em “contumácia”, ou seja, pessoas de paradeiro desconhecido ou mortos que em seu lugar se queimavam ou enforcavam bonecos.”

Sobre as famosas “caças as bruxas”.
“Dos 125.000 processos de sua historia [tribunais eclesiásticos], a Inquisição espanhola condenou a morte 59 “bruxas”. Na Itália. 36 e em Portugal 4.”
O que diriam os que alarmam “foram milhões”.
Evidenciou-se que os tribunais religiosos eram mais brandos do que os tribunais civis, tiveram poucas participações nestes casos, o que não aconteceu com os tribunais civis que mataram milhares de pessoas.

Sentenças de uma famoso inquisidor:
“Em 930 sentenças que o Inquisidor Bernardo Guy pronunciou em 15 anos, houve 139 absolvições, 132 penitências canônicas, 152 obrigações de peregrinações, 307 prisões e 42 “entregas ao braço secular” ([citado em] AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1 ed. Cleofas. Lorena. 2009, p. 23).
O Simpósio conclui que as penas de morte e os processos em que se usavam tortura, representam menos números do se imagina e foi propagado. Os dados representam uma verdadeira demolição de muitas ideias falsas e fantasiosas sobre a Inquisição.

“Hoje em dia, os historiadores já não utilizam o tema da inquisição como instrumento para defender ou atacar a Igreja. Diferentemente do que antes sucedia, o debate se encaminhou para o ambiente histórico com estatísticas sérias” (Historiador Agostinho Borromeo, presidente do Instituto Italiano de Estudos Ibéricos: AS, 1998).

Bom que tudo isto tem mudado é sinal de esperança, tomara que haja uma nova reconstrução “hermenêutica”, pois este é um dos sentimentos históricos. E com uma justa crítica acurada, superem-se as ambiguidades historiográficas.
Pena que as correntes históricas penduram-se e os teóricos antigos dizem eles os “conceituados” continuam a ser as referencias “fidelíssimas”, assim na pratica pedagógica e histórica; seja superior (acadêmica) ou (média e fundamental) ensinos públicos, continua à ritualista tradição a-histórica, não transparente sobre os acontecimentos de tom feiticista e alienado, incluindo dentre destes, muitos estudiosos, professores, e jornalistas brasileiros e do resto do mundo. “Há milhões de pessoas que odeiam o que erroneamente supõe o que seja a Igreja Católica” (Bispo americano, John Fulton Sheen).

Referencias:
AQUINO, Felipe. Para entender a Inquisição. 1º ed. Cleofas. Lorena. 2009.
DEVEVIER, W. A Historia da Inquisição, curso de apologética cristã. Melhoramentos, São Paulo, 1925.
L’INQUISIONI. Atas do Simpósio sobre a Inquisição, 1998.
PERNOUD, Régine. A Idade Média: Que não nos ensinaram. Ed. Agir, SP, 1964.
ROPS. Henri-Daniel. A Igreja das Catedrais e das Cruzadas. Vol. III. Ed. Quadrante, São Paulo. 1993.
Autor: John Lennon J. da Siva

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Como os primeiros cristãos celebravam o culto a Deus?

Missa católica ou culto protestante?
Que culto os cristãos devem prestar a Deus, é uma questão presente em algumas discussões religiosas promovidas por círculos cristãos diversos. Com o crescimento das seitas no Brasil, desde o fim da década passada podemos verificar a soberba de muitos não-catolicos em afirmar que o culto ou liturgia que eles prestam a Deus são verdadeiros e solidamente legítimos, pois identificam-se com o culto que os primeiros cristãos tributavam a Deus, sendo seu culto bíblico; seria verdadeiro este argumento? Acusam que a Missa católica é invenção humana e não se trata de um culto a Deus, mais uma simples reunião social, cujo Deus não ouve ou aceita, sem base bíblica mais um sacrifício paganizado; verdade estas afirmações?
Vamos analisar a historicidade litúrgica do culto oferecido pela Igreja, que tipo de culto e ritos os cristãos prestavam a Deus na antiguidade, sabemos que os primeiros cristãos seguiram a doutrina ensinada pelos apóstolos e mais tarde guarnecida pelos Padres da Igreja, o próprio mandamento do Senhor diz como lembra Paulo: "Fazei isto em memória de mim. Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciareis a minha morte, e confessareis a minha ressurreição" (1 Cor 11,26) . Lembra também Jesus no Evangelho de João “Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos” Jo 6, 53.
Os cristãos primitivos então viviam:
 Na comunhão do pão e na oração perseveravam os primeiros cristãos convertidos após a Ressurreição de Cristo, como atestado na Igreja primitiva (At 2, 42), celebrando os santos mistérios sacramentais, e no inicio do II séc.  usando a disciplina do Arcano¹, onde os mistérios cristãos eram celebrados secretamente para que não se paganizassem e se mantivessem no seio da Igreja, vivos, os gentios não participavam, os que podiam gozar de tais mistérios os “sacramentos” eram os já catequizados e batizados e não os catecúmenos. No serviço litúrgico (At 13, 2); reunidos na casa de membros da comunidade ou em lugares ocultos (como catacumbas), devido à perseguição, nos tempos primitivos muitos apóstolos ministraram a “liturgia”, ou seja, o oficio ou serviço de adoração a Deus, em suas casas edificações que ficaram conhecidas como Domus Eclesiae que mais tarde virá a se tornar Domus Dei edifícios só para o culto cristão.
Celebravam no primeiro dia depois do sábado (o Domingo, segundo São João, Ap. 1, 10), quando S. Paulo diz para partir o pão (At. 20,7), os cristãos cultuavam a Deus mais frequentemente. Faziam à leitura dos profetas, das epístolas dos apóstolos, das cartas que dirigiam às igrejas. Estas leituras eram explicadas, conforme S. João, que, conduzido a Éfeso, limitou-se a esta exortação: "Meus filhos, amai-vos uns aos outros". Desta prática de explicar o que era lido no Texto Sagrado, deriva a realização das homilias e sermões.
Vejamos os primeiros registros sobre a liturgia o que dizem os Pais Apostólicos da Igreja
S. Justino Mártir, (103-167) filósofo pagão que se convertera , tornando-se sacerdote e mártir, contemporâneo de Simeão (que havia ouvido Nosso Senhor Jesus Cristo), de S. Inácio, de Clemente, companheiro de S. Paulo na pregação, de Potino e de Irineu, discípulos de Policarpo em sua obra Apologia 2, escreve: "No chamado dia do Sol todos os fiéis das vilas e do campo se reúnem num mesmo lugar: em todas as oblações que fazemos, bendizemos e louvamos o Criador de todas as coisas, por Jesus Cristo, seu Filho, e pelo Espírito Santo" e sobre a reunião dos primeiros cristãos para culto ele descreve.
"Lêem-se os escritos dos profetas e os comentários dos apóstolos. Concluídas as leituras, o sacerdote faz um discurso em que instrui e exorta o povo a imitar tão belos exemplos". "Em seguida, nos erguemos, recitamos várias orações, e oferecemos pão, vinho e água".
"O sacerdote pronuncia claramente várias orações e ações de graças, que são acompanhadas pelo povo, com a aclamação Amem!". "Distribui-se os dons oferecidos, comunga-se desta oferenda, sobre a qual pronunciara-se a ação de graças, e os diáconos levam esta comunhão aos ausentes".
"Os que possuem bens e riquezas dão uma esmola, conforme sua vontade, que é coletada e levada ao sacerdote que, com ela, socorre órfãos, viúvas, prisioneiros e forasteiros, pois ele é o encarregado de aliviar todas as necessidades".
"Celebramos nossas reuniões no dia do Sol, porque ele é o primeiro dia da criação em que Deus separou a luz das trevas, e em que Jesus Cristo ressuscitou dos mortos".
Outro atestado é de;
S. Inácio de Antioquia, (†110) terceiro bispo de Antioquia, sucessor de S. Pedro e de Evódio, contemporâneo dos apóstolos quando muito jovem, que declarou ter visto Nosso Senhor ressuscitado; Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas as igrejas de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Apresenta alguns detalhes sobre a oblação da Eucaristia, na sua primeira carta aos cristãos de Esmirna. E nesta aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.
“Abstêm-se eles da Eucaristia e da oração, por que não reconhecem que a Eucaristia é a carne de nosso Salvador Jesus Cristo, carne que padeceu por nos­sos pecados e que o Pai, em Sua bondade, ressuscitou.” (Epístola aos Esmirnenses: Cap. VII; Santo Inácio de Antioquia).
S. Ireneu de Lião, (130-202) eminente teólogo ocidental, confirma-nos o sacrifício que era prestado pelos primeiros cristãos figurado no sacrifício de Cristo, em outra obra ele ressalta a importância e a transubstanciação na Eucaristia.
“(Nosso Senhor) nos ensinou também que há um novo sacrifício da Nova Aliança, sacrifício que a Igreja recebeu dos Apóstolos, e que se oferece em todos os lugares da terra ao Deus que se nos dá em alimento como primícia dos favores que Ele nos concede no Novo Testamento. Já o havia prefigurado Malaquias ao dizer: Porque desde o nascer do sol, (...) (Malaquias, I, 11). O que equivale dizer com toda clareza que o povo primeiramente eleito (os judeus) não havia mais de oferecer sacrifícios, senão que em todo lugar se ofereceria um sacrifício puro e que seu nome seria glorificado entre as nações." (Adversus haereses, São Ireneu de Lion).
Outro Registro é o:
Didaqué um catecismo cristão que fora escrito por volta do ano 120 d.C. um dos mais antigos registros do cristianismo, fala nos do culto cristão e da celebração dos primeiros crentes após transcrever regras a respeito da celebração da eucaristia; diz:
“Que ninguém coma nem beba da Eucaristia sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor disse: "Não dêem as coisas santas aos cães". (Didaqué, Cap. IX, Nº 5)
Também diz sobre a reunião dos crentes;
“Reúna-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício seja puro” (Didaqué, Cap. XIV, nº 1)
O que tem em comum estes testemunhos do fim do I séc. e inicio do II século, comprovam a liturgia católica como herdeira, da liturgia dos primeiros cristãos oferecidas em suas reuniões, mais tarde no séc. III conhecidas pelo termo Missa, que Procede do latim “mitere”, que quer dizer "enviar, mandar, despedir". Missa é o particípio que adquira o sentido de substantivo; "missão, despedida, dispensa,” é, pois a despedida na partida. Podemos observar que eles perseveravam na comunhão e na celebração eucarística então onde ficam os cultos protestantes? Os gritos, os longos sermões, e as musicas e estilos exagerados e sentimentais, além dos pseudo-exorcismos e das tidas manifestações do “Espírito”? Se não tem embasamento histórico, bíblico ou nas reuniões dos primeiros cristãos? Trata-se de invenções humanas posteriores a antiguidade cristã.
Notas:
Disciplina do Arcano¹: Disciplina do Segredo, ou Lei do Arcano, é o termo teológico para expressar o costume que prevaleceu na Igreja primitiva, na qual o conhecimento dos mistérios da religião cristã era, por medida de prudência, cuidadosamente mantido oculto aos gentios, aos não-iniciados e até mesmo aos que se submetiam à instrução na fé, para evitar que aprendessem algo que pudessem fazer mau uso, o costume pendurou-se até o séc. VI.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Proibidos de casar ou castos por opção?

Um dos argumentos protestantes mais usados contra o celibato é que ele seria algo imposto, que os sacerdotes, religiosas etc., seriam proibidos de se casar e – portanto, alegam – o celibato seria antibíblico. Num fórum de discussão, um protestante alegou: “Paulo não era casado, por opção dele …e não porque era proibido. no catolicismo è proibido”


Será isso verdade? Ou isso não passaria de mais um sofisma protestante? Por acaso o protestante supracitado sabe o que vem a ser o celibato evangélico, como proposto por S. Paulo e por Cristo? Parece que não. Inclusive, se soubesse, saberia que nos ritos orientais os sacerdotes podem ser ordenados se forem casados. Se acaso não se ordenam casados, serão celibatários dali em diante. Afinal, Nosso Senhor pede que a todos quantos o forem seguir que nada podemos amar mais que Ele, seja pai, mãe ou esposa/marido (Mt 10, 37-38).
O primeiro a propor o celibato, veja que coisa, foi Jesus! Sim, é isso mesmo: foi Cristo quem propôs pela primeira vez o celibato. Veja as palavras de N. Senhor:
“Respondeu ele: Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda.” (S. Mateus 19, 11 e 12)
Então, Jesus fala aí que muitos se fazem eunucos por amor ao Reino dos Céus. Uma coisa importante: o texto fala em 3 tipos de eunucos. O primeiro seria os que “são desde o ventre” de suas mães, são pessoas que nascem com alguma disfunção que lhes tolhe a função sexual. O segundo tipo falado por Cristo são os que foram tornados eunucos “pela mão dos homens”, ou seja, eram pessoas castradas, que eram feitas assim para vigiar haréns, fazer tarefas domésticas ou servir como espiões e por fim há os que são descritos por Cristo, como pessoas que a “si mesmo se fizeram eunucos”, por amor ao Reino. O que isso significa?
Quando Cristo fala de SE FAZEREM eunucos pelo Reino, Ele evoca o celibato, pois embora eles não sejam fisicamente eunucos, eles abrem mão do prazer sexual e – consequentemente – do casamento, já que o sexo fora do casamento não é permitido na moral cristã. Se fazer eunuco – portanto – é a mesma coisa que falar de celibato: renunciar ao casamento e ao sexo, por consequência.
Depois, São Paulo fala a mesma coisa com outras palavras, veja:
“Pois quereria que todos fossem como eu; mas cada um tem de Deus um dom particular: uns este, outros aquele. Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. É melhor casar do que abrasar-se.” (1Coríntios 7,7-9)
Ele começa o capítulo 7 falando de como os casados devem proceder (versículos 2 a 6) e aí emenda algo que ele tinha só feito menção no início do capítulo:
“Agora, a respeito das coisas que me escrevestes. Penso que seria bom ao homem não tocar mulher alguma.” (1Coríntios 7,1)
Ele fez menção breve como vc viu, no começo do capítulo e foi para como os casados devem proceder. Aí ele fala que gostaria que todos fossem como ele (Paulo era celibatário), mas ele reconhece ser um dom de Deus tanto um – o celibato – como o outro (casamento). Ao falar dos solteiros e das viúvas, ele os encoraja fortemente a viverem a castidade e a manterem-se celibatários: ” Aos solteiros… é bom se permanecerem assim”. E ainda fala que ele também o faz (“como eu”). Mas, logo ele adverte, que se não conseguir guardar a continência sexual, que se case, pois é “melhor casar que abrasar-se”, segundo o próprio S. Paulo.
São Paulo ainda explica o motivo de ele recomendar expressa e vivamente o celibato:
“Quisera ver-vos livres de toda preocupação. O solteiro cuida das coisas que são do Senhor, de como agradar ao Senhor. O casado preocupa-se com as coisas do mundo, procurando agradar à sua esposa. A mesma diferença existe com a mulher solteira ou a virgem. Aquela que não é casada cuida das coisas do Senhor, para ser santa no corpo e no espírito; mas a casada cuida das coisas do mundo, procurando agradar ao marido” (1 Coríntíos 7, 32-34)
Então, aí está o motivo pelo qual S. Paulo recomendava vivamente o celibato: o solteiro, o celibatário e a virgem estão livres para dedicar-se de modo integral ao Reino de Deus enquanto os casados tem outras preocupações: o marido ou a mulher, filhos, etc. E é por esse mesmo motivo que a Igreja pede que os sacerdotes, religiosos e religiosas sejam celibatários: para serem livres para servirem a Deus. Afinal, eles não terão outra preocupação além do Reino. E quando se abraça a vida sacerdotal ou religiosa, supõe-se que a pessoa em questão o faz para servir a Deus, dedicar-se ao Seu serviço. Nada mais coerente, então, que essa pessoa abdique de coisas santas e lícitas (o casamento, por ex.) para que ela possa ter dedicação total ao seu chamado.
Veja, então, que isso é – ao contrário do que muitos pensam – um dom de Deus. Não é para todos, claro, o próprio S. Paulo o reconhece. E não é – como o protestante citado afirma – uma imposição, antes a vocação sacerdotal ou religiosa é uma opção e uma opção consciente. Aliás, a bem da verdade, não só a vida sacerdotal e religiosa são celibatárias, mas muitos leigos o são celibatários por opção também. Desfazendo, assim, a suposta oposição entre o que diz S. Paulo e o que a Igreja faz. Na verdade, como vimos, a Igreja nada mais faz do que obedecer a São Paulo. Mas a bem da verdade as pessoas que são contrárias ao celibato deveriam ter esses fatores acima citados em mente. Ou correm o sério risco de faltar com a verdade dos fatos.
Autor : Juliana Fragetti Ribeiro Lima
Fonte : Veritatis Splendor

http://sadoutrina.wordpress.com/

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Dom Eugênio Sales: 90 anos

Nasceu em 8 de novembro de 1920, Acari, diocese de Caico, Brasil. Estudou no Seminário de Natal, Natal, Brasil. . Ordenado sacerdote, em 21 de novembro de 1943, em Natal. Trabalhou pastoralmente em Natal, de 1943 a 1954.

Eleito bispo titular de Tibica e nomeado auxiliar de Natal, em 1 de junho de 1954. Consagrado, em 15 de agosto de 1954, em Natal, por José de Medeiros Delgado, arcebispo de São Luis do Maranhão. Administrador apostólico, sé plena, de Natal, em 6 de janeiro de 1962. Assistiu ao Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965. Administrador apostólico da arquidiocese de São Salvador da Bahia, em 6 deulho de 1964. Promovido a sé metropolitana de São Salvador da Bahia, em 29 de outubro de 1968.
 
Criado cardeal presbítero, em 28 de abril de 1969; recebeu a barrete vermelha e título de S. Gregório VII, em 30 de abril de 1969. Legado pontifício ao Congresso Eucarístico Nacional, Brasília, em 5 de maio de 1970. Transladado a sé metropolitana de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 13 de março de 1971. Assistiu a II Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano, de 30 de setembro a 6 de novembro de 1971. Nomeado ordinário para os fiéis de rito oriental sem seu próprio eparca, em 22 de junho de 1972. Participou de conclave de 25 a 26 de agosto de 1978. Participou do conclave de 14 a 16 de outubro de 1978. Assistiu a III Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, Povoa, México, de 27 de janeiro a 13 de fevereiro de 1979; a V Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 26 de setembro a 25 de outubro de 1980. Membro do Conselho de Cardeais para o Estudo dos Problemas Organizativos e Econômicos da Santa Sé, em 31 de maio de 1981. Assistiu a VI Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos, na Cidade do Vaticano, de 29 de setembro a 28 de outubro de 1983; a II Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, Cidade do Vaticano, de 24 de novembro a 8 de dezembro de 1985. Enviado especial do Papa ao XII Congresso Eucarístico Nacional, Natal, de 6 a 13 de outubro de 1991. Assistiu a IV Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, Santo Domingo, República Dominicana, de 12 a 28 de outubro de 1992; foi um dos três presidentes delegados. Assistiu à Assembléia Especial para a América do Sínodo dos Bispos, em Cidade do Vaticano, de 16 de novembro a 12 de dezembro de 1997.



quinta-feira, 28 de outubro de 2010

«AD LIMINA APOSTOLORUM» DISCURSO DO PAPA AOS PRELADOS DO REGIONAL NE 5




DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
AOS PRELADOS DA CONFERÊNCIA NACIONAL
DOS BISPOS DO BRASIL (REGIONAL NORDESTE V)
EM VISITA «AD LIMINA APOSTOLORUM»
Quinta-feira, 28 de Outubro de 2010


Amados Irmãos no Episcopado,
«Para vós, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo» (2 Cor1, 2). Desejo antes de mais nada agradecer a Deus pelo vosso zelo e dedicação a Cristo e à sua Igreja que cresce no Regional Nordeste 5. Lendo os vossos relatórios, pude dar-me conta dos problemas de caráter religioso e pastoral, além de humano e social, com que deveis medir-vos diariamente. O quadro geral tem as suas sombras, mas tem também sinais de esperança, como Dom Xavier Gilles acaba de referir na saudação que me dirigiu, dando livre curso aos sentimentos de todos vós e do vosso povo.
Como sabeis, nos sucessivos encontros com os diversos Regionais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, tenho sublinhado diferentes âmbitos e respectivos agentes do multiforme serviço evangelizador e pastoral da Igreja na vossa grande Nação; hoje, gostaria de falar-vos de como a Igreja, na sua missão de fecundar e fermentar a sociedade humana com o Evangelho, ensina ao homem a sua dignidade de filho de Deus e a sua vocação à união com todos os homens, das quais decorrem as exigências da justiça e da paz social, conforme à sabedoria divina.
Entretanto, o dever imediato de trabalhar por uma ordem social justa é próprio dos fiéis leigos, que, como cidadãos livres e responsáveis, se empenham em contribuir para a reta configuração da vida social, no respeito da sua legítima autonomia e da ordem moral natural (cf. Deus caritas est, 29). O vosso dever como Bispos junto com o vosso clero é mediato, enquanto vos compete contribuir para a purificação da razão e o despertar das forças morais necessárias para a construção de uma sociedade justa e fraterna. Quando, porém, os direitos fundamentais da pessoa ou a salvação das almas o exigirem, os pastores têm o grave dever de emitir um juízo moral, mesmo em matérias políticas (cf. Gaudium et spes, 76).
Ao formular esses juízos, os pastores devem levar em conta o valor absoluto daqueles preceitos morais negativos que declaram moralmente inaceitável a escolha de uma determinada ação intrinsecamente má e incompatível com a dignidade da pessoa; tal escolha não pode ser resgatada pela bondade de qualquer fim, intenção, conseqüência ou circunstância. Portanto, seria totalmente falsa e ilusória qualquer defesa dos direitos humanos políticos, econômicos e sociais que não compreendesse a enérgica defesa do direito à vida desde a concepção até à morte natural (cf. Christifideles laici, 38). Além disso no quadro do empenho pelos mais fracos e os mais indefesos, quem é mais inerme que um nascituro ou um doente em estado vegetativo ou terminal? Quando os projetos políticos contemplam, aberta ou veladamente, a descriminalização do aborto ou da eutanásia, o ideal democrático – que só é verdadeiramente tal quando reconhece e tutela a dignidade de toda a pessoa humana – é atraiçoado nas suas bases (cf. Evangelium vitæ, 74). Portanto, caros Irmãos no episcopado, ao defender a vida «não devemos temer a oposição e a impopularidade, recusando qualquer compromisso e ambigüidade que nos conformem com a mentalidade deste mundo» (ibidem,82).
Além disso, para melhor ajudar os leigos a viverem o seu empenho cristão e sócio-político de um modo unitário e coerente, é «necessária — como vos disse em Aparecida — uma catequese social e uma adequada formação na doutrina social da Igreja, sendo muito útil para isso o "Compêndio da Doutrina Social da Igreja"» (Discurso inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, 3). Isto significa também que em determinadas ocasiões, os pastores devem mesmo lembrar a todos os cidadãos o direito, que é também um dever, de usar livremente o próprio voto para a promoção do bem comum (cf. Gaudium et spes 75).
Neste ponto, política e fé se tocam. A fé tem, sem dúvida, a sua natureza específica de encontro com o Deus vivo que abre novos horizontes muito para além do âmbito próprio da razão. «Com efeito, sem a correção oferecida pela religião até a razão pode tornar-se vítima de ambigüidades, como acontece quando ela é manipulada pela ideologia, ou então aplicada de uma maneira parcial, sem ter em consideração plenamente a dignidade da pessoa humana» (Viagem Apostólica ao Reino Unido, Encontro com as autoridades civis, 17 de setembro de 2010).
Só respeitando, promovendo e ensinando incansavelmente a natureza transcendente da pessoa humana é que uma sociedade pode ser construída. Assim, Deus deve «encontrar lugar também na esfera pública, nomeadamente nas dimensões cultural, social, econômica e particularmente política» (Caritas in veritate, 56). Por isso, amados Irmãos, uno a minha voz à vossa num vivo apelo a favor da educação religiosa, e mais concretamente do ensino confessional e plural da religião, na escola pública do Estado.
Queria ainda recordar que a presença de símbolos religiosos na vida pública é ao mesmo tempo lembrança da transcendência do homem e garantia do seu respeito. Eles têm um valor particular, no caso do Brasil, em que a religião católica é parte integral da sua história. Como não pensar neste momento na imagem de Jesus Cristo com os braços estendidos sobre a baía da Guanabara que representa a hospitalidade e o amor com que o Brasil sempre soube abrir seus braços a homens e mulheres perseguidos e necessitados provenientes de todo o mundo? Foi nessa presença de Jesus na vida brasileira, que eles se integraram harmonicamente na sociedade, contribuindo ao enriquecimento da cultura, ao crescimento econômico e ao espírito de solidariedade e liberdade.
Amados Irmãos, confio à Mãe de Deus e nossa, invocada no Brasil sob o título de Nossa Senhora Aparecida, estes anseios da Igreja Católica na Terra de Santa Cruz e de todos os homens de boa vontade em defesa dos valores da vida humana e da sua transcendência, junto com as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias dos homens e mulheres da província eclesiástica do Maranhão. A todos coloco sob a Sua materna proteção, e a vós e ao vosso povo concedo a minha Benção Apostólica. 

http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2010/october/documents/hf_ben-xvi_spe_20101028_ad-limina-brasile_po.html